Depoimentos

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• Maria Virgínia Ribeiro Lima

  Peregrina

Gratidão

Conheci a história do caminho de Santiago em 1997, através do relato pessoal de uma amiga. Fiquei tocada pela emoção e pelo poder espiritual da peregrinação. A partir daí iniciei uma busca por conhecimento histórico, experiências e vivências de outros peregrinos, roteiros e por último a leitura do livro de Ana Sharp em 1999.

Paralelo a esses passos, encontrei em Dom Gregório Paixão, então sacerdote do Mosteiro de São Bento da Bahia, o mentor espiritual com indicações de leituras e longas conversas. Neste momento, já decidida a fazer o caminho, precisava apenas conciliar a agenda dos meus três filhos, trabalho, férias e a escolha da melhor época para percorrer o caminho francês.

Senti-me capaz em maio de 2000, com 50 anos. Iniciei por Saint Jean Pied de Port o caminho pelos passos da minha vida.

O meu coração transbordava de amor e na cabeça havia uma efusão de sentimentos que permutavam entre a ansiedade, inquietação e receios, mas uma certeza eu tinha: estava senhora de mim por inteira.

Foram dias intensos de cansaço, dores, lágrimas, choros convulsivos, reflexão, mas também de alegria e leveza. Não foi fácil, na solidão dos passos via momentos da minha vida que retornavam com uma clareza absurda, alguns passos doloridos, nos quais as lágrimas e o peito me levavam para outra dimensão, e outros saudosos, leves e felizes.

Assim foi a minha jornada pelos campos de Compostela, buscando os sinais para sanar as minhas dores. Algumas ligações foram feitas durante a caminhada, com as quais me reconciliei com entes queridos, que no decorrer do dia a dia erramos, na certeza que era o mais correto naquele momento.

Ao meu caminho só tenho muita gratidão, uma gratidão avassaladora! Este sentimento é um dos pilares que norteia a minha vida hoje em dia. Quando cheguei encontrei peregrinos que comungavam desse imenso sentimento, e a divulgação da peregrinação tornou-se a nossa bandeira de gratitude.

Vários encontros foram realizados ao longo desse período, e cada vez mais adesões. Assim, criou-se a ABACS (Associação Bahiana dos Amigos do Caminho de Santiago). Posteriormente implantamos o caminho de Santiago do Iguape, no recôncavo baiano e, juntamente com peregrinos de Vitória da Conquista, foi criado há 16 anos o caminho de Santiago de Periperi, interiorizando a divulgação da Caminho de Santiago de Compostela.

Por Maria Virgínia Ribeiro Lima

Peregrina, ano 2000

“Vedes então que o homem é justificado pelas obras e não só pela fé”

Epístola de São Tiago